Aquelas gôndolas perto dos caixas dos supermercados são mesmo uma perdição. Especialistas em economia doméstica recomendam que os clientes fujam como o diabo da cruz dessa área perigosa, pois as comprinhas de última hora encarecem significativamente a despesa, na maioria das vezes com itens totalmente supérfluos.
Todas as leitoras de Anamaria já ouviram o conselho. Quando os filhos estão do lado, no entanto, é mais difícil manter a parcimônia. Começam a pedir coisas e mais coisas, gritar, espernear, chantagem emocional, e em poucos instantes de criancinhas adoráveis se transformam em verdadeiras propagandas ambulantes de laqueadura.
A menina, no entanto, atipicamente não pediu nada. Apenas apontou e perguntou à mãe:
– O que é isso?
Perguntou alto, aquele timbre agudo de criança chamou a atenção, não foram poucos os que se viraram para observar a impassível réplica materna – nem desviou os olhos da barra de chocolate para falar, analisava as calorias e a quantidade de gorduras.
– São preservativos, filhinha.
Muito bem. Quanta firmeza, a segurança na voz de uma mãe esclarecida, leituras, cursos e visitas ao psicólogo. Não há por que mentir ou constranger-se, são coisas tão naturais, o sexo não é sujo, só exprimir-se direta e pacientemente, na linguagem adequada à idade, omitindo detalhes desnecessários.
– Pra que serve? – a nova pergunta veio mais aguda ainda. Agora era como se o tempo houvesse parado: os caixas, os clientes, o empacotador, o gerente, a mocinha que distribui amostras gratuitas de suco, todos todos dentro do supermercado, a dezenas de metros de distância, deixaram o que quer estivessem fazendo para acompanhar a resposta da mãe. Como se sair dessa?
A jovem senhora, porém, não perdeu o rebolado. Ignorando a plateia, desta vez teve de largar as contas calóricas para segurar os ombros da filha e ensinar pausadamente.
– Lembra quando a mamãe falou sobre como os bebês nascem? Que a sementinha do papai vai dentro da barriga da mamãe enquanto eles namoram? Então, quando o casal não quer ter bebês, é só colocar o preservativo no pipi do homem que eles podem namorar sem ter filhos.
Vitória. Admiração geral pelo poder didático da mãe que, em público, enfrentara uma situação embaraçosa e havia conseguido se explicar em linguagem simples e sem mentir à filha.
Só que a menina, recém-alfabetizada, não se deu por satisfeita.
– Mas mamãe, por que é de uva?
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