Tempos atrás, numa viagem que fiz a Recife, conversava com meu cicerone sobre as peripécias do Luiz Inácio por aquelas bandas. Sua aprovação na região crescia conforme espalhava-se por lá o vírus do Bolsa-Família. O argumento do meu amigo, doutor em Finanças, era de que ao menos o programa do governo dava algum alento a esses indivíduos que, de outra forma, não teriam nem como garantir sua subsistência. Cidades inteiras ressurgiam e tinham suas economias impulsionadas pelo benefício. OK, é justo, pensei na época.
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Dois anos e pouco se passaram e os índices de popularidade do presidente continuam refletindo a alienação bovina do povo. Enquanto isso, o vírus do Bolsa-Família sofreu uma previsível mutação e, contrariando todos os preceitos da biologia, atende agora na categoria dos parasitas.
Sim, parasita*. Como o nome diz, parasita é aquele que vive às custas de outrem. Mas, ao contrário do carrapato e da tênia, o beneficiário do Bolsa-Família não nasceu parasita e, diferentemente do piolho e da lombriga, ele não precisa morrer parasita. A menos que ele prefira morrer parasita.
O próprio presidente destacou isso num dos seus recentes discursos inflamados (31/07/2009), onde disse que "(...) tem gente tão imbecil, tão ignorante, que ainda fala: 'o Bolsa-Família é para deixar as pessoas preguiçosas, porque quem recebe Bolsa-Família não quer mais trabalhar'. A ignorância é de tal magnitude, que as pessoas pensam que um ser humano vai ganhar R$ 85,00 e vai deixar de ter perspectiva de ganhar os R$ 616,00 que a Mônica vai ganhar tendo um trabalho decente."
Pois talvez algumas dessas pessoas tão imbecis e tão ignorantes trabalhem no jornal O Globo e tenham escrito, recentemente, uma reportagemfalando um pouco sobre a vida dos quase 12 milhões de pessoas (11.994.309 para ser preciso) que talvez tenham feito essa opção. Juntas, elas custam aos cofres públicos a bagatela de R$ 11,961 bilhões por ano.
Os repórteres percorreram algumas regiões onde, literalmente, cidades inteiras são sustentadas pelo programa. Vilas e povoados nos quais não há nenhuma atividade econômica e que dependem exclusivamente da mesada que eu e você enviamo-lhes compulsoriamente. Lugares onde o meu imposto vira o arroz e o seu transforma-se no feijão que haverá de equilibrar todas as barrigas. Um equilíbrio precário, porém suficiente. O mínimo para que não se precise - tampouco se queira - ir um tostão além.
Nas 100 cidades que proporcionalmente mais recebem verbas do Bolsa-Família, um milhão de habitantes distribuem-se em 259 mil lares. Desses, 71% são sustentados por nós. Algo como toda a população de Campo Grande-MS.
Diz-se na reportagem d'O Globo, que na cidade de Presidente Vargas-MA conta-se nos dedos de uma mão o número de trabalhadores registrados. Vou além: pode-se usar a mão esquerda do presidente, porque eles são apenas quatro - num universo de 14.000 habitantes.
style="FONT-FAMILY: Tahoma; FONT-SIZE: 11px">Queridos eleitores...
São quatro mônicas para 13.996 parasitas, pois a assistente social da cidade diz que desistiu de fazer cursos profissionalizantes ali por falta de quórum. Aulas que ensinam a extrair a massa sob a casca do côco, que é vendida a R$ 10,00 o quilo. Mas as moradoras da região preferem vender a amêndoa por R$ 0,90 o quilo, porque dá menos trabalho. Você gosta de saber que o seu dinheiro e desperdiçado, assim como o côco?
Outro aspecto preocupante apontado na reportagem é o paulatino desaparecimento das roças familiares. Com o Bolsa-Família as pessoas compram o que precisam nos armazéns. Nesses locais, são explorados - quando não roubados - por quem toma-lhes os cartões do benefício. Apesar da alardeada diminuição da probreza, a desnutrição segue atingindo, ainda, boa parte das crianças da região. Miséria? Não necessariamente. As secretarias promovem cursos para ensinar alimentação saudável de baixíssimo custo. Todos ele interrompidos, porém, na metade. Por falta de interesse do público.
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Se Lula acha tão inconcebível que as pessoas prefiram ganhar o Bolsa-Família ante à perspectiva de serem colegas da Mônica - com seu respectivo salário de R$ 616,00 - por que não dá essa oportunidade a todos, então? Por que ele não prova, de uma vez por todas, que os críticos ao seu programa estão errados, que as pessoas que escreveram essa reportagem são, de fato, imbecis e ignorantes e que todos os beneficiários preferem trabalhar?
Se eu não dou esmola na rua e nos sinais para não perpetuar a miséria, por que o Governo tem o seu próprio programa de esmolas - e consequente perpetuação (e controle) da miséria?
style="FONT-FAMILY: Tahoma; FONT-SIZE: 11px">Quer trocar um pelo outro?
Simplesmente porque não é assim tão fácil. Não se recupera aposentados precoces da noite para o dia. O Bolsa-Família tira o eleitor da miséria absoluta para colocá-lo na dependência eterna. Na dependência de um governo que lhe garanta a pobreza contínua, a miséria assegurada, a indigência inquestionável. Se não isso, ao menos a sobrevivência até a próxima eleição, onde os doze milhões de Bolsas-Família multiplicam-se em vinte e tantos milhões de votos.
Por Rodolfo Araújo
http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/11/o-bolsafamilia-e-o-voto-imortal.html