quarta-feira, 13 de abril de 2011

Como manter um estilo de vida que adia a velhice

A especialidade do cirurgião cardíaco turco e cidadão americano Mehmet Oz, de 47 anos, é retardar ao máximo os efeitos da idade em seus pacientes. Diretor do Programa de Medicina Integrada da Universidade Colúmbia, em Nova  York, ele é consultor da famosa clínica antienvelhecimento do médico Michael  Roizen, criador do conceito de que é possível manter o organismo mais jovem  do que aponta a idade cronológica. Oz e Roizen também assinam a quatro mãos uma série de livros de sucesso que ensinam como manter um estilo de vida que  adia a velhice. Tem programa na TV (Canal da Fox), tem um quadro no programa da Oprah  Winfrey. Ele também apresenta documentários no Discovery Channel. Em todos casos dá dicas aos telespectadores sobre como viver mais com boa saúde. Esse é justamente o tema da entrevista que ele deu a VEJA em 2007 e vale relembrar:

Veja - Existe uma fórmula para se manter jovem por mais tempo?
Oz - Sim. Há catorze agentes principais envolvidos no  envelhecimento. Sete retardam o processo, como os antioxidantes, e sete nos enfraquecem, como a atrofia muscular. É preciso manter esses agentes sob controle. O primeiro passo para alcançar esse objetivo é pensar não na possibilidade de ficar doente, mas na necessidade de manter o organismo  saudável. Deve-se tirar o foco da prevenção dos males e direcioná-lo para a  preservação da saúde. Se ninguém mais morresse de câncer e de doenças  cardiovasculares, a expectativa de vida média do ser humano subiria apenas  nove anos. Isso mostra que, para aumentar consideravelmente a expectativa de  vida, não basta evitar doenças. É preciso cuidar do corpo para que ele não  enfraqueça. Quando uma pessoa envelhece, doenças potencialmente fatais, como  o câncer e o infarto, não aparecem de imediato. Antes que elas se instalem,  o corpo torna-se mais frágil e vulnerável.

Veja - O que fazer para evitar que o corpo se torne frágil e  vulnerável?
Oz - Meu novo livro, You Staying Young (Você Sempre Jovem, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), trata exatamente desse tema. Os exercícios físicos são uma ferramenta essencial. Eles combatem o primeiro  sinal do envelhecimento, que é a perda de força muscular. Outros recursos  importantes são alimentar-se bem e meditar. Uma boa recomendação é a prática  do tai chi chuan, exercício oriental que combina equilíbrio, coordenação  motora e também meditação. Se todos adotassem essas medidas, a vida média da  população poderia subir para 110 anos. Quanto à alimentação, não podem  faltar nutrientes como o resveratrol da uva e o licopeno do tomate, que são poderosos antioxidantes. O principal, mas também o mais difícil, é controlar  a quantidade dos alimentos. De qualquer forma, todo mundo deve comer um pouco menos do que tem vontade.

Veja - Fazer várias pequenas refeições por dia, como recomendam alguns  médicos, faz bem para a saúde?
Oz - Deve-se comer de três em três horas. Se o intervalo é maior, a taxa de hormônio grelina, que estimula a fome, começa a subir. O problema é  que, após uma refeição, ainda demora trinta minutos para que a taxa desse  hormônio volte a baixar. Em conseqüência disso, acaba-se comendo mais do que  se deveria. O mais importante, além de comer alguma coisa a cada três horas,  é trocar as refeições grandes por pequenas, intercaladas por lanchinhos. Esse conceito não foi criado por mim. É o que mostram as pesquisas  científicas.

Veja - O que o senhor considera refeições grandes e pequenas?
Oz - Uma refeição grande ultrapassa 1 000 calorias.
Uma pequena tem, no máximo, 500. Quem consome por volta de 2 000 calorias diárias pode fazer  duas refeições de 300 calorias cada uma e outra
maior, de até 800. Os  lanchinhos podem ter até 250 calorias.

Veja - O que deve ficar de fora do cardápio?
Oz - Existe uma regrinha fácil de ser usada, a regra dos cinco. Para isso, é preciso examinar o rótulo dos alimentos. Cinco ingredientes não podem estar entre os primeiros listados no rótulo. São eles: gorduras saturadas, gorduras trans, açúcar simples, açúcar invertido e farinha de trigo enriquecida. Dois desses nutrientes são gorduras, dois são açúcares. Os dois tipos de gordura podem estimular processos inflamatórios no fígado  que forçam a produção de substâncias deletérias, como o colesterol.Também  fazem com que o fígado fique menos sensível à insulina, aumentando o risco  de diabetes. Os açúcares listados fazem mal por estimular a produção de  insulina, o que aumenta o depósito de gordura corporal. O pior é que esses  cinco itens são os mais comuns nas dietas atuais.

Veja - O  cardápio básico do brasileiro, composto de arroz, feijão, carne e salada, é  saudável?
Oz - A princípio, sim. Esse cardápio contém exatamente os nutrientes para os quais a digestão humana está preparada. Mas os brasileiros comem  carnes muito gordas, o que é errado. Antigamente, no mundo inteiro, quando  os métodos de criação do gado eram mais simples, a porcentagem de gordura dos melhores cortes da carne bovina era, em média, de 4%. Hoje é de 30%. Outro problema dos hábitos alimentares do brasileiro é que ele come arroz em  excesso, o que não traz nenhum benefício. Melhor seria adotar o arroz  integral. Os alimentos integrais têm mais fibras, o que os mantém mais tempo  no intestino e diminui a absorção de açúcar pelo organismo. Uma vantagem dos  brasileiros é ter à disposição enorme variedade de frutas e vegetais  maravilhosos, por preço razoável.

Veja - Os hábitos que o senhor propõe para prolongar a vida são relativamente simples, mas exigem controle estrito sobre as atividades do  dia-a-dia. Como exercer esse controle?
Oz - A palavra-chave é automatizar. Ou seja, fazer desses hábitos uma rotina, sem precisar pensar muito neles. Acordar, escovar os dentes e passar o fio dental, para reduzir a quantidade de bactérias prejudiciais à saúde. Beber muito líquido ao longo do dia, principalmente água e chá verde. Dormir ao menos sete horas por noite. Durante o sono se produz o hormônio do  crescimento, essencial mesmo para quem já é adulto, pois prolonga a juventude. Caminhar meia hora por dia e praticar exercícios que façam suar  três vezes por semana. Meditar cinco minutos diariamente, o que pode estar  embutido na prática de ioga ou tai chi chuan. Evitar alimentos que estejam  na regra dos cinco, que mencionei anteriormente. Uma última coisa: estreitar  o relacionamento com as pessoas próximas e abster-se de julgá-las. Em vez de  julgar os outros, é melhor tomar conta de si próprio.

Veja - Abster-se de julgar os outros ajuda a manter a juventude?
Oz - Sim, da mesma forma que resolver situações de conflito. O conflito não traz nada de positivo. É apenas desgastante. Costumo recomendar a meus pacientes que procurem as pessoas com quem mantêm uma relação de  animosidade e tentem resolver o impasse. Essa é uma atitude para o bem-estar  próprio. Não há nada de altruísta nela. É uma atitude egoísta.

Veja - O que o senhor acha das dietas para emagrecer que surgem e viram  moda a cada seis meses?
Oz - Essas dietas fazem sucesso, mas são péssimas para a saúde. A alimentação não deve ser encarada como uma maratona para a perda de peso. Uma dieta que tenha como chamariz o emagrecimento rápido não é confiável. Comer menos do que o corpo necessita é uma agressão à fisiologia. Ou seja,  aos processos químicos que fazem o organismo funcionar. Quando a fisiologia  é desprezada, os resultados das dietas são transitórios.

Veja - Por que o senhor recomenda cuidados com o jantar?
Oz - Na verdade, há uma única regra a observar: deve-se jantar pelo menos três horas antes de dormir. Deitar logo após a refeição facilita o acúmulo de gordura, principalmente na cintura. Além disso, comer muito tarde  prejudica o sono.

Veja - O senhor recomenda beber muita água durante o dia. Quanto se deve  beber exatamente?
Oz - Deve-se beber uma quantidade suficiente para que a urina esteja sempre clara. Isso varia de um dia para o outro. Em dias quentes, sua-se muito e, por isso, é preciso beber mais água. Para quem não abre mão da cafeína, sugiro chá verde. Em lugar de quatro cafezinhos por dia, beba  quatro copos de chá verde. Essa bebida concentra muitos antioxidantes e  nutrientes bons para a saúde.

Veja - Muitos ambientalistas condenam o consumo de água engarrafada. Do ponto de vista da saúde, ela é melhor que a água da torneira?
Oz - Eu acho um erro beber água engarrafada. Há dois problemas principais com ela. O primeiro é que, se a garrafa plástica não for reciclada, pode contaminar os mares e os rios. Isso prejudica o meio ambiente e, indiretamente, a saúde. O plástico das embalagens vai parar nos  peixes que comemos. O resultado é que 97% das pessoas apresentam resíduos de  plástico no organismo, o que interfere no sistema hormonal. Esses resíduos  estimulam os receptores de estrogênio, o hormônio feminino. Em excesso, o  estrogênio pode causar câncer e outros problemas. As toxinas contidas no  plástico também aceleram o envelhecimento. O segundo problema é que, como a  água engarrafada não apresenta vantagens com relação à água da torneira, trata-se de um desperdício de dinheiro.

Veja - O senhor recomenda exercícios físicos que provoquem suor. Exercícios leves são inúteis?
Oz - Essas recomendações visam à saúde cardiovascular. Para essa finalidade, apenas os exercícios moderados ou intensos, que fazem suar,  apresentam benefícios. Mas os exercícios suaves e de baixo impacto têm  valor. Mesmo a caminhada movimenta grandes músculos, como os das coxas e dos  quadris, que consomem muita energia. Como o gasto calórico muscular é maior  durante o exercício, a queima de calorias aumenta.

Veja - Os suplementos vitamínicos são criticados em muitos estudos científicos. O que o senhor acha deles?
Oz - Eles são eficazes, mas prometem mais do que cumprem. Na verdade, os médicos saem da faculdade sem conhecimentos suficientes sobre os  suplementos e são forçados a tirar suas próprias conclusões. De modo geral,  uma suplementação só é necessária quando as vitaminas não são obtidas  naturalmente com a alimentação. Por outro lado, acredito que determinadas  vitaminas podem melhorar a qualidade de vida e a longevidade. Entre elas  estão as vitaminas A, B, C, D e E, além de cálcio, magnésio, selênio e  zinco. A vitamina D é importantíssima, pois previne câncer e osteoporose. Principalmente nos países mais frios, onde a exposição solar é restrita, os  suplementos são essenciais.

Veja - Além dos procedimentos já descritos nesta entrevista, o que mais o senhor faz para adiar o envelhecimento?
Oz - Minha receita principal de juventude é brincar com meus filhos. Também procuro descobrir coisas novas todos os dias. Aprendo ao conversar  com os outros e, apesar de ser muito assediado para responder a perguntas,  por causa de minha atuação na TV, prefiro perguntar, saber como é a vida das  pessoas, como elas trabalham. Isso faz minha mente exercitar-se.

Veja - Nos últimos anos, o aperfeiçoamento do tratamento clínico fez cair o número de cirurgias cardíacas. Essa é uma tendência em outras especialidades médicas além da cardiologia?
Oz - Sem dúvida. Os recursos clínicos tornaram-se mais eficazes  tanto para a prevenção de doenças quanto para seu tratamento. Por isso, assim como na cardiologia, a cirurgia deixou de ser a primeira opção em outras áreas. Há poucos anos, quando o paciente machucava o joelho, ia  direto para a sala de operação. Agora, ele vai para a sala de fisioterapia. Essa tendência também é evidente nos casos de diverticulite, uma inflamação  do intestino, que passou a ser tratada com o consumo de fibras. O mesmo  acontece com pacientes que apresentam doença arterial obstrutiva periférica. Antes eles iam para a faca. Agora, recebem como orientação deixar de fumar e  caminhar. Mesmo que sintam dor num primeiro momento, essa é uma maneira de estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos para substituir os  danificados.

Veja - O senhor já esteve no Brasil. Como foi sua experiência no país?
Oz - Visitei o Brasil há muitos anos, quando ainda era estudante de medicina. Fui ao Rio de Janeiro e conheci o doutor Ivo Pitanguy. Também  fiquei deslumbrado com as frutas brasileiras e com as lojas de sucos. Elas  misturam frutas e outros vegetais, uma combinação pouco convencional. Conheci o açaí, que até hoje está no meu cardápio. Compro açaí em Nova York  mesmo. É um dos alimentos com maior concentração de antioxidantes. Planejo  voltar ao Brasil em meados do ano que vem para gravar um programa. Quero muito ir à Amazônia e conhecer as plantas medicinais da região.


Retirado do Blog Meus Poemas e Reflexões

http://ditadosereflexoes.blogspot.com/2011/04/como-manter-um-estilo-de-vida-que-adia.html

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